Em entrevista à CARAS Brasil, Gabriela Kulaif compartilha importância do diagnóstico de autismo e fala sobre interpretar a si mesma no longa BitterSweet

Gabriela Kulaif em BitterSweet
Foto: Reprodução/IMDB / Caras Brasil
Gabriela Kulaif encarou o desafio de produzir e protagonizar um filme sobre sua própria história. Brasileira morando nos Estados Unidos desde 2002, a artista é casada com o ator americano Steven Martini, diagnosticado como autista tardiamente, e leva a história de vida pessoal sobre autismo para o cinema internacional com o longa BitterSweet."Foi uma cura", diz a atriz em entrevista à CARAS Brasil.
Ressignificar o trauma nas telas
Para Gabriela, criar BitterSweet foi um processo profundamente intenso e transformador. "Foi super traumático para mim. Foi super difícil, super intenso ter que filmar de novo um trauma", revela. A história do filme reflete a realidade que ela e Steven viveram antes do diagnóstico tardio do ator como autista.
Algumas cenas do longa, segundo Gabriela, são réplicas exatas de momentos que aconteceram na vida real. No entanto, apesar de reviver um trauma, a atriz também reconhece a experiência como curativa: "Foi super libertador. Foi uma cura fazer esse filme, para mim e para meu marido", confessa.
O processo de transformar a dor em arte permitiu que ela e o marido compreendessem melhor o que passaram, o que torna o filme não apenas um produto, mas também uma forma de acolhimento e reflexão para o casal e o público.
Interpretando a si mesma
Uma das escolhas mais impactantes de BitterSweet foi Gabriela interpretar a si mesma, algo que ela não imaginava ao começar a desenvolver o longa. A intérprete revela que, no decorrer da produção, Steven insistiu para que ela fosse a protagonista. "'Tem várias atrizes brasileiras', eu comentei, mas o Steven disse: 'Não, não. Quero que você atue'", relembra.
Embora não quisesse se impor, Gabriela aceitou o papel — o que se revelou a escolha certa. "Não teria uma pessoa melhor do que eu para fazer eu mesma", diz. Ela também fala sobre a preparação para atuar, algo que exigiu muito mais do que simplesmente se colocar diante das câmeras: "Eu tive que criar uma persona diferente".
A atriz explica que buscou inspiração em outras figuras e trabalhou com um coach de atuação para dar à personagem uma aura diferente, mesmo sendo tão pessoal. "A gente trabalhou um lado assim, que era diferente de mim. Não era exatamente só eu. Era uma personagem", revela.
Desafio duplo
Além de protagonizar o filme, Gabriela também desempenhou um papel essencial na produção de BitterSweet. "Produzi e atuei ao mesmo tempo. Foi muito trabalho, são muitos detalhes. A produção tem licenciamento, tem um monte de papelada", conta, destacando o esforço duplo de conciliar as duas funções.
Apesar dos desafios, ela encontrou uma maneira de equilibrar sua participação como atriz e produtora. "Eu não tinha que estar só pensando na personagem. Eu estava fazendo um monte de coisa, e quando era hora de atuar, eu ia: 'Agora sou a Gabi, vamos!'", relembra.
No processo intenso e nas múltiplas responsabilidades, a intérprete encontrou alívio e conseguiu controlar um possível nervosismo de ser protagonista de um filme tão pessoal. "Quando eu estava fazendo outras coisas, eu não ficava nervosa", admite.
Importância do diagnóstico
BitterSweet já está sendo reconhecido em festivais internacionais e Gabriela compartilha sua emoção com o crescente reconhecimento da obra. "Esses festivais estão sendo o maior reconhecimento que a gente teve até agora", comemora. Enquanto a produção ganha destaque, a artista enfatiza a relevância de buscar o diagnóstico de autismo, algo que ela defende tanto para seu marido quanto para seu filho, que também é autista.
Ela compartilha sua experiência pessoal e destaca que, após o diagnóstico de Steven, todos os problemas do casal fizeram sentido. "Eu falei: 'Não, agora faz todo sentido o que está acontecendo'". Gabriela enfatiza, ainda, a importância de não ter vergonha de procurar ajuda e de entender o que está acontecendo. Para ela, a informação é o primeiro passo para lidar com o autismo de forma eficaz, tanto para os pais quanto para os filhos.
Além disso, Gabriela lembra que o diagnóstico de autismo pode mudar vidas, como a dela e de sua família. Ela cita o caso de seu filho, que foi diagnosticado aos quatro anos e, agora, já compreende melhor seu próprio processo de autismo. "Eu sentei do lado dele e disse: 'Filho, lembra que a mamãe conversou com você sobre o autismo? Então, isso que você está tendo agora é uma das coisas do autismo'", compartilha.
"A informação traz a cura com ela. Porque às vezes, pensa na nossa vida, quando você não sabe o que está acontecendo com você, você fica meio até barata tonta. Você fala: 'Gente, o que está acontecendo?'. A hora que você sabe: 'Ah, é isso'. E aí você entende como lidar", conclui.
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