
Silvio Persivo
Há, agora, uma grande reação ao “politicamente correto” que, como não se pode desconhecer, está intimamente associado a um conjunto de normas sociais que pretendem evitar palavras e comportamentos que sejam considerados ofensivos ou discriminatórios. Há razões fundadas para isto, pois, o exemplo mais obvio é o de criticarem Monteiro Lobato por considerarem parte de sua obra infantil “racista” (qua!qua!) ou, outro exemplo absurdo, é de associar a Gilberto Freyre, um conservador, mas, reconhecidamente adepto da multirracionalidade, inclusive, de certa forma, seu livro é um elogio ao Brasil por sua miscigenação, de racista, anti-semita, xenófobo, machista e sei lá mais o quê. Vamos ser claros: Gilberto Freyre usa, e abusa, de adjetivos e de opiniões no seu livro (e ninguém é obrigado a concordar com elas), mas, enciclopédico como foi, escreve sobre quase tudo, de alimentação passando por agricultura e até mesmo genética, com tantas teses, dados e argumentos que seria impossível estar certo em todas. Como, porém, compreender o Brasil, e Portugal em parte, sem ler “Casa Grande & Senzala”? Pode-se acusá-lo de tudo menos de não ter escrito um livro importante e polêmico. Mas, pela ótica do politicamente correto, não muito diferente da inquisição, seus livros deveriam não ter sido escritos e, como foram, mereceriam a fogueira. E, no fundo é isto que faz com que o “politicamente correto” seja uma forma de totalitarismo. É, sem sombra de dúvidas, uma imposição de censura às ideias e aos comportamentos que limitam a liberdade de expressão. Mais do que isto, sob o argumento bom mocista de querer impor o que, supostamente, é bom, no fundo, existe a ideia de promover uma visão única, de homogeneizar o pensamento. É um ótimo instrumento para o controle social, de vez que todos os regimes totalitários desejam calar a voz dos opositores, seja impedindo suas falas, seja banindo a oposição, prendendo, acusando de “fake news” quem pensa diferente ou cancelando e, modernamente, retirando os meios de sobrevivência e até mesmo impedindo acesso às mídias sociais. A evidência moderna é a de que o “politicamente correto” tem servido muito para a manipulação do discurso público para moldar a percepção social (os anúncios politicamente corretos de hoje são peças toscas e, como diria o Falcão “Ó gente feia”) visando confirmar a narrativa dominante e usando, descaradamente, a demonização das divergências. Enfim, a intenção do politicamente correto de promover respeito e inclusão somente semeia controle, acirramento e ódio. Basta ver a perseguição feita aos humoristas que, hoje, fazem piadas com receio de ir para a cadeia. É como se, na vida real, não existisse preconceitos, rejeições, preferências, bondade, má intenção e mesquinhezes que, no fundo, representam quem somos e como ou quanto podemos melhorar. Não será a nova fala, nem os eufemismos, redefinições ou invenções semânticas ou etimológicas que irão resolver as disputas humanas e suas diferenças ou aversões. Pode até parecer que resolvem, mas somente criam outras. O politicamente correto não é apenas autoritário. É sim uma manifestação do totalitarismo travestido de boas intenções.
