
Laudo técnico do CREA-RO revela deformações excessivas e fissuras em estrutura com apenas 16 anos de uso
A ponte sobre o Rio Candeias, localizada no município de Candeias do Jamari, em Rondônia, apresenta risco significativo de colapso estrutural e necessita de intervenção urgente. A conclusão é de um laudo técnico elaborado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia (CREA-RO), após vistoria realizada no dia 13 de maio de 2025, a pedido do Ministério Público Federal.
O documento, entregue ao MPF, aponta a existência de fissuras e deformações acima dos limites previstos em norma, o que compromete a segurança dos usuários que trafegam diariamente pela estrutura. A ponte, inaugurada em maio de 2009 e com apenas 16 anos de uso, já apresenta problemas estruturais graves, muito aquém da vida útil esperada de pelo menos 50 anos para esse tipo de construção.
Vistoria técnica identificou problemas graves
A vistoria foi conduzida por uma equipe técnica do CREA-RO composta pelos engenheiros Hélvio Pantoja (especialista em estruturas), Siguimar Francisco da Cruz (fiscal e coordenador geral) e Oziany Gomes de Souza (fiscal e gerente técnica). A inspeção visual identificou patologias aparentes e anomalias na superestrutura da ponte que comprometem sua segurança estrutural e funcional.Entre os problemas detectados, destacam-se desvios exagerados no greide da ponte, com valores de 9,3 cm, 18,9 cm e 3,1 cm, respectivamente para o vão do lado Porto Velho, vão central e vão do lado Cuiabá. Como parâmetro usual para deformações verticais em vãos de pontes, adota-se a relação L/800, que para o vão central da ponte em análise, com extensão de 100 metros, resultaria em valor máximo de 12,5 cm.
"As patologias detectáveis a olho nu – fissuras distribuídas ao longo de toda a estrutura e deformações excessivas – permitem atribuir uma gravidade acentuada aos fenômenos que estão degradando a estrutura", afirma o relatório do CREA-RO.

Deformação detectada visualmente no vão central da ponte, lado montante.
Ilustram as juntas de dilatação das barreiras rígidas em locais onde não houve
a deformação vertical acentuada.

Fissura no vão central da ponte.
Problemas identificados desde 2010
O relatório do CREA-RO destaca que os problemas na ponte não são recentes. Em 2010, apenas um ano após sua inauguração, um relatório técnico (RP-1) elaborado pela LSE - Laboratório de Sistemas Estruturais Ltda, mediante contrato firmado com o DNIT, já evidenciava desvios exagerados no greide da ponte.Segundo o engenheiro Hélvio Pantoja, especialista em estruturas e membro da equipe de vistoria,
"a tendência é que as patologias se agravem, requerendo um grau de urgência nas medidas de reparos para estabilizar o avanço das patologias e permitir que seja executada obra de reforço estrutural".
Possíveis causas dos problemas estruturais
O laudo técnico aponta três possíveis causas para as deformações e fissuras encontradas na ponte:
- Sobrecarga não prevista ou tráfego acima da capacidade de projeto;
- Recalques diferenciais nos apoios ou fundações não previstos em projeto, alterando a geometria da estrutura e provocando grandes esforços adicionais;
- Ausência ou deficiência de manutenção preventiva ao longo da vida útil da ponte.
Os especialistas destacam que as normas técnicas para cálculo de cargas em pontes foram atualizadas em 2013 e novamente em 2024, considerando que os veículos que hoje trafegam sobre as rodovias brasileiras são muito mais pesados que aqueles da década de 1980, quando foram estabelecidos os parâmetros anteriores.
DNIT já contratou empresa para reforço emergencial
Durante visita técnica à sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em Porto Velho, realizada no dia 14 de maio, o engenheiro civil Francisco Kleber Pimenta Aguiar informou que já foi contratada uma empresa especializada para a execução de um reforço estrutural emergencial.Segundo ele, as peças necessárias para a intervenção já estão em processo de transporte, saindo de São Paulo com destino a Porto Velho. No entanto, o engenheiro não soube precisar a data de início da execução dos serviços.
A primeira etapa da intervenção consistirá na instalação imediata de cabos de protensão externos, com o objetivo de garantir a estabilidade da estrutura e a fluidez do tráfego com segurança. O sistema de protensão é uma técnica que utiliza elementos de aço de alta resistência que são tensionados para comprimir o concreto, aumentando significativamente sua capacidade de suportar cargas e reduzindo a formação de fissuras.
Após a conclusão dessa etapa provisória, está prevista a realização da reforma geral da ponte, conforme planejamento do DNIT.
Recomendações para garantir a segurança
Diante da gravidade da situação, o CREA-RO fez uma série de recomendações para minimizar os riscos enquanto as intervenções não são realizadas:- Manter o sistema de pare e siga, com tráfego alternado em cada sentido de fluxo, evitando a utilização de todas as faixas e concentrando o tráfego na região central do eixo longitudinal;
- Alternar o tráfego de veículos pesados e leves, limitando a passagem de veículos de grande porte simultaneamente e intercalando veículos pequenos entre estes;Realizar uma análise estrutural mais detalhada, com a participação de engenheiros civis especializados nesse tipo de estrutura;
- Implementar medidas de recuperação urgente, incluindo reforço estrutural e substituição de materiais comprometidos;
- Manter acompanhamento constante das condições da ponte até que a recuperação total seja concluída.
Histórico de problemas em obras do DNIT
O relatório do CREA-RO menciona que, em 2011, o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou severas críticas ao gerenciamento das Obras de Arte Especiais (pontes e viadutos) sob responsabilidade do DNIT, através do relatório TC 003.134/2011-3.Somente em 2021, durante o XII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, foi apresentada a integração do Sistema de Gerenciamento de Obras de Arte Especiais (SGO) e o Sistema MonaLisa, demonstrando evolução no gerenciamento dessas estruturas pelo DNIT.
Impacto para a população
A ponte sobre o Rio Candeias é parte da BR-364, uma das principais rodovias de Rondônia, responsável pelo escoamento da produção agrícola e pelo transporte de passageiros entre os municípios do estado. A restrição de tráfego já causa transtornos para motoristas e empresas de transporte.
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"De acordo com o método GUT (Gravidade, Urgência e Tendência), a estrutura e a deformação são GRAVÍSSIMAS, tendo URGÊNCIA imediata de intervenção do DNIT, com TENDÊNCIA de colapso da estrutura em função do grande fluxo de veículos pesados que trafega diariamente sobre a ponte", conclui o relatório do CREA-RO.
Nesta última segunda-feira (19), a Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado realizou audiências públicas em Ji-Paraná e Vilhena, para debater a concessão da BR-364 em Rondônia, especialmente a Rota Agro Norte. O encontro na Câmara Municipal de Ji-Paraná revelou forte oposição à cobrança antecipada de pedágio antes das obras, além da falta de consulta às comunidades locais e indígenas. Senadores como Marcos Rogério e Jaime Bagatolli participaram, enquanto um incidente com um servidor do governo estadual tentou desestabilizar o debate.
O servidor, identificado como Mário Angelino Moreira, conhecido como "Jabá", causou alvoroço ao debater de forma agressiva acusando os parlamentares federais de inérsia sobre a BR-364 e posteriomente tentou invadir o plenário da Câmara Municipal. Quase pulou a mureta que separa a galeria do plenário, em um ato que exigiu a intervenção da polícia legislativa para contê-lo.
A comissão solicitou que o TCU acompanhe a concessão, buscando transparência e justiça no processo.
Enquanto isso, usuários da ponte seguem apreensivos e enfrentando filas devido ao sistema de pare e siga implementado para reduzir os riscos de acidentes. A expectativa é que, com a intervenção emergencial, a segurança seja restabelecida o mais rápido possível.
Fissura na lateral da viga caixão, lado jusante, na ligação da aduela de
arranque e a primeira aduela – características de cisalhamento da ligação.

Ilustra a continuidade da fissura da figura anterior, na laje de fundo a viga caixão.

Fissura na parte inferior da laje, lado jusante, margem esquerda (Porto Velho).
Relatório do CREA-RO Completo. Clique Aqui
Fonte: Redação

Fissura na parte inferior da laje, lado jusante, margem esquerda (Porto Velho).
Relatório do CREA-RO Completo. Clique Aqui
Fonte: Redação