Muito antes de Metal Gear Solid virar febre no PlayStation, Kojima já mostrava que se esconder podia ser mais interessante do que atirar

Foto: Reprodução/Konami
Em julho de 1987, um jogo lançado discretamente para o computador MSX2 no Japão mudaria para sempre o curso da história dos videogames. Metal Gear, desenvolvido pela Konami e idealizado por um jovem game designer chamado Hideo Kojima, não apenas introduziu conceitos inéditos para a época, como também marcou o nascimento de uma das franquias mais influentes e reverenciadas da indústria.
Naquela época, a maioria dos jogos era focada em ação frenética e combates diretos, com os protagonistas resolvendo tudo na base da porrada ou tiros. Metal Gear chegou para desafiar esse padrão ao colocar a furtividade como um elemento fundamental da jogabilidade.
Os jogadores assumiam o controle de Solid Snake, um agente de elite novato encarregado de se infiltrar na fortaleza militar Outer Heaven, auxiliado via rádio por seu comandante Big Boss, e com a missão de destruir o Metal Gear, um tanque bípede com armas nucleares. A grande sacada que Kojima teve foi a de não fazer de Snake um super-herói invencível, com o combate frontal muitas vezes sendo a pior estratégia.
O jogador era encorajado a evitar confrontos e usar a furtividade como sua principal arma. Esconder-se de inimigos, desativar câmeras, usar disfarces e evitar confrontos diretos eram cruciais para o sucesso das missões. Essa ênfase na discrição e na estratégia era revolucionária para a época, e pavimentou o caminho para o que hoje conhecemos como o gênero stealth, ou furtivo.
Surgiu por causa das limitações do MSX2
Hideo Kojima não foi o criador original de Metal Gear. Ele entrou no projeto após ser designado por um colega mais experiente da Konami, numa fase em que o jogo ainda era pensado como um título de ação militar convencional. A ideia inicial era simples: um jogo de tiro com temática de guerra moderna, no estilo dos populares arcades da época.
Mas havia um problema: o hardware do MSX2. Com sérias limitações técnicas, o MSX2 não permitia que muitos inimigos ou projéteis fossem exibidos simultaneamente na tela. Além disso, sua rolagem de tela era lenta e truncada, dificultando qualquer tentativa de emular a fluidez de um arcade. Para muitos, essas restrições significavam um fracasso anunciado.
Mas ao invés de abandonar o projeto, Kojima propôs uma reviravolta: transformar a fraqueza do sistema em base para uma nova abordagem de jogabilidade. Se não era possível encher a tela de tiros e inimigos, que tal fazer o jogador evitá-los? Assim surgiu a espinha dorsal de Metal Gear: a furtividade. Não mais correr e atirar, mas se esconder, observar, escolher o momento certo para agir - ou não agir.
Narrativa complexa

Metal Gear - MSX (1987)
Foto: Reprodução
Além da jogabilidade inovadora, Metal Gear também se destacou pela sua narrativa complexa e imersiva. Embora limitado pelas capacidades técnicas do MSX2, Kojima, um grande fã do cinema de Hollywood, conseguiu tecer uma trama intrigante, cheia de reviravoltas e personagens memoráveis. As comunicações via rádio com diversos personagens, cada um com sua personalidade e função, contribuíam para a profundidade do universo do jogo, algo incomum em 1987.
O sucesso desse primeiro Metal Gear no MSX não apenas solidificou a reputação da Konami no mercado, mas também garantiu uma sequência direta, Metal Gear 2: Solid Snake (1990), e lançou o nome de Hideo Kojima ao estrelato no Japão. Sua visão única e sua paixão por contar histórias de forma interativa se tornaram sua marca registrada.

Metal Gear - MSX (1987)
Foto: Reprodução
Nos anos seguintes Kojima trabalhou em outros projetos e só voltaria para Metal Gear em 1998, com o lançamento do icônico Metal Gear Solid para o PSOne. Mantendo a jogabilidade de furtividade, mas explorando uma ambientação 3D e uma narrativa cinematográfica, o jogo se tornou um sucesso gigantesco, e Hideo Kojima se tornou famoso no mundo inteiro e uma figura cultuada na indústria de games.
E vale lembrar: apesar de Metal Gear do MSX2 ser o primeiro lançamento da série, cronologicamente ele está situado no meio da história que envolve todos os jogos lançados, incluindo os de PlayStation, com os títulos Metal Gear Solid 3: Snake Eater (2004), Metal Gear Solid: Peace Walker (2010), Metal Gear Solid V: Ground Zeroes (20141) e Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (2015) situados antes dele.
Legado de Metal Gear
Hoje, 38 anos depois, Metal Gear continua sendo uma referência. O jogo original do MSX pode parecer simples para os padrões atuais, mas sua importância histórica é inegável.
Ele foi a semente de uma das franquias mais influentes e celebradas da história dos videogames, e o ponto de partida para a carreira brilhante de Hideo Kojima, um verdadeiro gênio excêntrico no mundo digital.
O legado de furtividade, narrativa profunda e inovação que Metal Gear estabeleceu em 1987 ecoam até hoje, inspirando incontáveis desenvolvedores e cativando novas gerações de jogadores, inclusive presentes no trabalho mais recente de Kojima: Death Stranding 2.
https://www.terra.com.br/gameon/plataformas-e-consoles/38-anos-de-metal-gear-o-classico-do-msx-que-lancou-hideo-kojima-ao-estrelato,20cc394d1eb9a8ee445b32ff1572d8651e56sjg7.html?utm_source=clipboard