
Silvio Persivo
O futebol, hoje, como todas as coisas é globalizado. É verdade que, até por uma questão econômica, a Europa apresenta-se como num patamar superior, mas, esta copa tem demonstrado isto, futebol se joga é dentro das quatro linhas e lá, muitas coisas, fogem da questão de estrutura, do talento dos jogadores e até da capacidade dos técnicos. Entram, de forma decisiva, fatores como o psicológico, as circunstâncias e a sorte. Porém, de uma forma geral, o jogo está muito equalizado. Uma coisa provada no atual mundial é que não existe jogo fácil. Somente um time, aliás de amadores, o Auckland City, esteve fragilizado nos seus jogos. Todos os outros times, mesmo quando perderam, deram trabalho aos adversários e demonstraram terem jogadores de qualidade. A visão, por exemplo, de que os times da América do Sul estavam num nível inferior se dissolveu com o Botafogo impondo uma derrota ao favorito maior do torneio, o PSG, que havia estreado esplendorosamente metendo 4x0 no Atlético de Madrid. Mas, uma demonstração clara de que há diferença, mas não tanta é que, até agora, dos sete jogos realizados entre os times brasileiros e europeu, três foram vencidos pelos brasileiros, dois pelos europeus e aconteceram dois empates. A sensação de distância veio de que o Flamengo, do qual se esperava muito mais, perdeu, de forma surpreendentemente fácil para o Bayern. Mas, foram os vacilos e as circunstâncias, tanto que o time europeu venceu o Boca Juniors por 2x1, mas não foi um jogo tão fácil quanto como o do Flamengo. A prova definitiva de que o futebol está pasteurizado, ou seja, quase todos num nível semelhante, foi a espetacular vitória do Al-Hilal por 4x3 sobre o Manchester City. O Al-Hilal já havia demonstrado que seria um osso duro de roer, pois empatou com o Real Madrid e o RZ Salzburg. Apesar disto ninguém apostava, inclusive eu, que não fosse esmagado pela máquina de jogar futebol do time inglês. Não foi o que se viu. Apesar de sua predominância no jogo, as qualidades do time saudita foram ajudadas pelo famoso Sobrenatural de Almeida, que o Fluminense emprestou para o Manchester City. Por mais que tenha jogado muito bem certas coisas são inexplicáveis num jogo maravilhoso e inesquecível como foi este. Em primeiro lugar o acerto de um passe preciso como o de Cancelo para o primeiro gol. Depois não há como não atribuir ao sobrenatural o gol de cabeça de Koulibaly, que aparece do nada e cabeceia como um matador de forma inapelável. Mas, a presença do Sobrenatural de Almeida foi soberba no quarto gol de Marcos Leonardo. Claro que é um goleador nato, um atacante vocacionado para fazer gol, porém estava morto em campo, deveria até ter saído e não saiu. E aparece no chão para fazer um gol devastador, mortal. O Al-Hilal fez história. Mas, não se pode deixar de acentuar que os dois melhores times do momento, favoritos disparados, que poderia se apontar como destinados a serem campeões invictos, o PSG e o Manchester City, já foram derrotados nesta Copa do Mundo de Clubes. Podem dizer o que quiserem, mas a frase de Renato Paiva é antológica; “O cemitério do futebol está cheio de favoritos”.