
Silvio Persivo
O Brasil, como sabiamente disse Tom Jobim, "não é para principiantes". Essa frase se aplica perfeitamente aos desafios econômicos que o país enfrenta, especialmente quando se olha para a desindustrialização. É um problema de longa data, agravado por um ambiente de negócios hostil, marcado por burocracia excessiva, alta carga tributária e insegurança jurídica.
O cenário é alarmante. Em agosto, a Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou o pior desempenho do setor desde 2015, com queda na produção e redução de empregos. Essa situação não é culpa dos empresários, que lutam para manter seus negócios, mas sim de um sistema que dificulta a competitividade.
A situação é ainda mais complicada com o avanço de plataformas de e-commerce chinesas como Shein, AliExpress, Shopee e Temu. O Brasil é o único país do mundo onde todas essas gigantes operam conjuntamente, criando uma concorrência predatória. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta que, entre 2019 e 2024, as vendas online no Brasil cresceram 75%, impulsionadas por essas plataformas que oferecem preços baixos e vantagens fiscais.
Para as empresas brasileiras, especialmente as pequenas e médias, competir com um país inteiro é quase impossível. O resultado é um dilema crucial: a produção nacional versus preços mais baixos. Essa concorrência desleal, com plataformas estrangeiras submetidas a uma carga tributária menor, coloca a indústria e o varejo brasileiros em uma posição de desvantagem.
O dilema é claro: ou o país protege seu mercado interno para garantir a sobrevivência da indústria, ou assiste à aceleração da desindustrialização, voltando a ser uma economia primário-exportadora. Proteger a indústria não significa fechar o mercado, mas criar condições para que ela se modernize e se torne competitiva.
Ignorar essa realidade é entregar o futuro da economia a mercados e produções estrangeiras. Estamos em uma encruzilhada, e a decisão que for tomada agora terá um impacto decisivo no futuro do Brasil. O que o Brasil deve fazer para resolver essa situação? É uma questão decisiva para o nosso futuro.