Silvio Persivo
Hoje me deparo com este artigo que nem sei mais quando escrevi. Mas, suponho que tenha sido por volta de 2016. Certeza não tenho, mas o texto vale a pena reviver. Coisas mesmas do saudosismo rondoniense.
SAUDOSISMO RONDONIENSE
Postaram, no Facebook, no grupo Saudosismo Portovelhense, o primeiro ônibus de linha a chegar em Guajará-Mirim, em 1967. Isso me levou a pensar como os ônibus mudaram. E os usos e costumes desde quando, em meados da década de 70, aportei em Porto Velho. Ainda se comia tartarugas no seu Amorim, em Pedro II. No fim da tarde, havia um tacacá no centro ou ainda se comia uma boa maniçoba. Nem falo de caranguejo ou de deliciosas tapiocas no café da manhã. Mas, é da vida, as coisas passam. Porto Velho possuía um bom carnaval, festas juninas maravilhosas, um ar provinciano e pacato que sumiu com o tempo.
Algumas coisas no tempo. O Luís Matos, um escritor de fatos e coisas do Guaporé, lembrava que sumiu o traje de dançar a “Desfeiteira”, dança típica do Vale do Guaporé ao som de acordeon, sanfona ou fole, qualquer nome que se queira dar, que pudesse ser acompanhado do pandeiro, se existisse, mas, invariavelmente do bombo, um instrumento de percussão feito artesanalmente de couro de viado retesado sobreposto a um pau oco de um metro. Um instrumento rústico de bom som, porém, de poucas notas, daí o som monótono e repetitivo, o mesmo tra-lá-lá sempre. Que era animado era. A diferença da dança consistia em que, quando o sanfoneiro parava, o par que se encontravasse na sua frente tinha obrigações de dizer um verso alto para todo mundo ouvir. Muitas vezes os versos que saíam eram irreverentes e havia pares que fugiam, mas, o sanfoneiro ia atrás para obrigar todos a declamar um verso. Muitos eram jocosos e, mesmo os imorais, eram de uma imoralidade implícita. Também sumiu o traje denominado “saca-borracho” (tira bêbado) que era o de, logo ao começar o baile, o dono da casa apresentando uma criança de colo como autoridade máxima. Se alguém se excedia na cachaça, logo aparecia o pai com a criança e o mandava dormir. Ia obrigatoriamente, sem reclamações. Outra fantasia que desapareceu foi a parte do chapéu, que era um baile onde um dos dançantes aparecia com um chapéu e dançando colocava na cabeça do outro. Que procurava se livrar rápido, pois, se a parte terminava, a música parava, quem estava com o chapéu na cabeça pagava um litro de vinho para as damas. São fantasias que se perdem no tempo. Como o famoso “Bloco da Cobra” é apenas saudosismo rondoniense.