
Pesquisa do Hibou, empresa especializada em mercados e consumo, mostra que quase 78% dos brasileiros sentem que a inflação é maior do que os índices acusam
O Datafolha revelou, a partir de uma pesquisa feita, na primeira semana de abril, que a inflação obrigou 58% dos brasileiros diminuir a quantidade de alimentos que compram, mas, na população de baixa renda, esta percentagem sobe para 67%. Também constatou que 54% atribuem à atual gestão a maior responsabilidade pela inflação dos alimentos. Claro que o governo nega e culpa os produtores rurais e o setor externo. O problema é que os impostos e os preços administrados pelo governo também subiram muito, bem como o governo, agora, possui um déficit que é o maior, em termos históricos, e as taxas de juros nas alturas não refresca nada a vida das empresas e pessoas. “O Bolso do Brasileiro” sente a dor da inflação
A realidade financeira é numérica, inescapável: o dinheiro acaba bem antes de fechar o mês. E, como não se vive sem consumo, acontecem duas coisas difíceis de serem toleradas: 1) começa-se a viver uma rotina de renúncias com a primeira delas sendo as saídas de casa e, logo depois, a diminuição do consumo de itens mais caros; 2) o uso do crédito como forma de resolver momentaneamente a situação. Segundo a pesquisa “O Bolso do Brasileiro”, da Hibou, este é o cenário econômico vivido pelos brasileiros em 2025, com a inflação escapando dos números oficiais, em meio ao aperto financeiro- com a alta no endividamento, aparecem os cortes no carrinho de compras, trocas de marcas, contas em atraso e escolhas difíceis no dia a dia. Os dados mostram um consumidor pressionado que se adapta como pode para sobreviver à escalada do custo de vida.
A percepção da inflação de 78% dos brasileiros é que os preços subiram mais do que os índices divulgados pelo governo. Somente 20% sentem a inflação no mesmo ritmo do oficial, e apenas 2% acreditam que os preços subiram menos. Isto escancara o descompasso entre a realidade sentida no dia a dia e os números macroeconômicos. Assim, para Lígia Mello, CSO da Hibou, “A inflação real, para o consumidor, não está nos relatórios — está no carrinho do supermercado e nos boletos acumulados. A perda de poder de compra é o que define o humor da economia popular”.
A dificuldade em manter as contas básicas levou muitos brasileiros ao crédito rotativo. Segundo a pesquisa, 33% deles relatam que os gastos no cartão aumentaram no 1º trimestre de 2025. Este crescimento está ligado ao aumento do endividamento: 21% dizem estar mais endividados do que no início do ano, enquanto 35% seguem no mesmo nível. Apenas 16% conseguiram reduzir suas dívidas, e 28% afirmam não estar endividados.
Além disto, o que é alarmante: 49% dos lares brasileiros têm alguma conta em atraso. As mais comuns são o próprio cartão de crédito (56%), seguidas por contas de luz e água (28%), boletos em atraso (26%), empréstimos (21%), cheque especial (18%), impostos como IPTU (13%) e IPVA (11%), e até aluguel (2%).
Renda estagnada, sacrifícios no carrinho e pior qualidade de vida
A pesquisa revela ainda que, até aqui em 2025, 32% dos brasileiros tiveram uma nova redução de renda, e 30% seguem com a renda igual- sem piorar, mas também sem melhorar. Para 12%, alguém em casa perdeu o emprego no último ano. O que implica em busca de outras estratégias para complementar a renda. Assim 11% dizem que alguém da casa passou a fazer bicos, 4% voltaram ao regime CLT, e somente 7% conseguiram aumentar a renda familiar. Uma minoria, 2%, diz ter mudado de casa para economizar no aluguel e 2% fecharam o próprio negócio no último ano.
Como resultado direto da combinação de inflação percebida e renda travada, o consumidor é obrigado a fazer cortes profundos no seu consumo: 52% deixaram de fora alguns itens do seu carrinho, 48% diminuíram as quantidades ou volumes comprados, e 44% trocaram marcas ou cortes por opções mais baratas. O impacto também atinge os serviços: 35% deixaram de ir ao salão de beleza ou manicure, 21% cancelaram assinaturas de streaming ou revistas, 11% venderam objetos usados, e 9% reduziram a frequência da faxineira ou diarista. Em casos extremos, 1% mudou os filhos de escola por causa das finanças. Ainda segundo Ligia Mello, “É um eterno ajuste, mas que está comprometendo radicalmente a qualidade de vida do brasileiro. Hoje, a população come muito menos nutrientes do que nos anos anteriores, porque tudo está mais caro, e isso é alarmante.”
Carnes, combustíveis e medicamentos pesam mais no bolso
Embora o ovo, por conta do seu aumento, seja muito falado, a pesquisa aponta que os itens que mais pressionam o orçamento dos brasileiros são a Carne, que lidera com 43% das menções, depois o combustível (32%) e os medicamentos (30%). O café, que tem sido muito mencionado, e similares aparece com 27% e outro vilão importante é o plano de saúde (25%). Depois são apontados genericamente itens básicos como a cesta básica (19%), por fim os ovos (16%), frutas (13%), legumes (10%), laticínios e grãos (8%) também surgem na lista, o que reforça que o impacto atinge a base da alimentação e dos cuidados pessoais dos brasileiros.
Com a redução da renda e aumento da inflação a forma de comprar também mudou. Segundo a pesquisa, 92% dos entrevistados comparam preços antes de fechar uma compra, e 37% fracionam suas compras ao longo do mês em diferentes mercados, justamente para aproveitar as melhores ofertas. Outros 26% dividem as compras em dois supermercados diferentes, e 30% preferem um único local, mas ficam atentos às marcas com melhor custo-benefício. O hábito de fidelidade à marca ou à loja deu lugar à estratégia pura. O consumidor está pesquisando mais, ficando mais atento, mais volúvel às ofertas, mais ligado no preço que na qualidade e demonstra, apesar da criatividade, um certo grau de exaustão com o cenário econômico difícil.
Fonte: Usina de Ideias. Com material fornecido por Desiree Michel Nacle Hamuche Montes (desiree@freshpr.com.br).