Polícia Federal estima que, desde 2019, até R$ 6,3 bilhões foram desviados de aposentados e pensionistas; fraude mirou os mais vulneráveis

Então ministro da Previdênia Social, Carlos Lupi, fala durante reunião na Câmara
Foto: Lula Marques/Agência Brasil - 29.04.2025
A demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT-SP), na sexta-feira, 2, marca um novo capítulo do escândalo envolvendo um esquema de fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em que até R$ 6,3 bilhões foram desviados de aposentados e pensionistas desde 2019, segundo a Polícia Federal (PF).
Relatório da PF mostrou que o esquema teria como alvo pessoas especialmente vulneráveis, como moradores de zonas rurais, pessoas com deficiência, doentes com impossibilidade de locomoção e analfabetos.
Entenda abaixo o esquema de fraude no INSS em cinco pontos:
1. Como funcionava o esquema
Entidades sindicais e associações que prestam serviços a aposentados cadastravam indevidamente beneficiários do INSS, usando assinaturas falsas, e passavam a aplicar descontos em seus benefícios diretamente da folha de pagamentos. O esquema começou no governo de Jair Bolsonaro e se aprofundou no atual governo.
O lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS", sócio de 21 empresas, é apontado como o operador central do esquema. Ele teria recebido R$ 53,88 milhões de associações envolvidas e fez repasses milionários para servidores do órgão suspeitos de participação nos crimes.
2. Queda de Lupi e do presidente do INSS
A PF citou o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, demitido na semana passada, como figura-chave da estrutura do esquema. Ele foi indicado ao cargo por Lupi, que, vencido pela pressão crescente sobre ele, pediu demissão na sexta-feira.
Nos bastidores, o governo avaliava que a permanência de Lupi era insustentável. A saída foi negociada diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em nota, Lupi afirmou que seu nome não foi citado nas investigações, mas reconheceu a gravidade da crise. Ele acrescentou que seguirá acompanhando as investigações e colaborando com o governo para que os recursos desviados sejam devolvidos integralmente aos beneficiários.
3. Ligação do novo ministro com a antiga gestão
O escolhido para substituir Lupi foi Woney Queiroz, ex-deputado federal do PDT e número dois da pasta. Ele exercia o cargo de secretário-executivo da Previdência Social e também participou da reunião do Conselho Nacional da Previdência, em 2023, na qual as primeiras denúncias foram apresentadas.
As medidas para coibir a fraude só foram tomadas um ano depois. Ainda assim, a escolha de um nome ligado diretamente à antiga gestão pode não ser positiva. A oposição já sinaliza que vai cobrar explicações e pode passar a pressionar agora pela saída de Wolney.
4. Possível CPI no Congresso
Aliados de Lula admitem preocupação com a possibilidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o esquema. Parlamentares da oposição, especialmente do PL e do Novo, já articulam os primeiros movimentos.
A fragilidade da base do governo no Congresso — que depende de apoios do Centrão — torna qualquer CPI um fator de desgaste adicional. O desgaste torna-se especialmente maior neste caso, que envolve um esquema criminoso contra pessoas em situação de vulnerabilidade.
5. Plano de ressarcimento sem estruturação definida
Lula prometeu devolver os valores descontados indevidamente dos beneficiários e determinou que a Advocacia-Geral da União (AGU) processe as associações envolvidas e garanta o ressarcimento às vítimas. Apesar disso, não está claro como ou quando isso será feito. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo está buscando "o caminho" para estruturar a devolução.
Fonte: Redação Terra
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/demissao-de-lupi-marca-novo-capitulo-do-escandalo-do-inss-entenda-o-esquema-em-cinco-pontos,772cb5dff2b69e3aa16740b80825e5201oqrrwv8.html?utm_source=clipboard