
Silvio Persivo
O que mais influencia as decisões humanas não é, como advogaram os economistas clássicos, a visão do Homo Economicus, ou seja, apenas o racionalismo econômico. Com o surgimento da teoria da perspectiva de Kahneman e Tversky aprendemos que perder dói mais do que ganhar agrada, o que afeta escolhas. É a aversão à perda que leva investidores a assumir riscos para evitar reconhecer uma perda (efeito disposição), mesmo quando isto não é racional. Um outro passo, que foi dado para melhorar o conhecimento sobre as decisões, veio da racionalidade limitada: Herbert Simon propõe que buscamos decisões “suficientemente boas” por restrições cognitivas e pressões emocionais. Assim os processos cerebrais distinguem entre modos automáticos e deliberados. O Jogo do Ultimato evidencia que o cérebro pode rejeitar ganhos justos quando percepcionados como injustos, gerando desconforto emocional. Enfim, decisões envolvem razão e emoção. O racional e o irracional.
É a partir de algumas condições que podemos chegar a decisões melhores:
- Reconhecer limites: aceitar que a razão tem fronteiras facilita flexibilizar estratégias.
- Instrumentos para neutralizar vieses: controles em investimentos, políticas públicas com arquitetura de escolhas que orientem de modo benéfico.
- Contexto importa: ambientes que reduzem o medo da perda e promovem decisões graduais ajudam na qualidade das escolhas.
- Aprendizado contínuo: experiências e feedbacks ajudam a ajustar julgamentos com o tempo.
De modo que é possível melhorar a tomada de decisões com algumas medidas:
- Estruture decisões: use etapas claras, critérios objetivos e limites de risco.
- Reduza a influência do medo da perda: estabeleça metas de curto prazo, diversifique e use testes de cenários para testar hipóteses sem comprometer o todo.
- Decisões graduais: incremente ações e avalie resultados com frequência para ajustar rumos.
- Use ambientes de decisão favoráveis: políticas, regras e incentivos que promovam escolhas racionais sem suprimir a autonomia.
- Inclua diferentes perspectivas: consultas a especialistas, revisão por pares ou “devil’s advocacy” (advogados do diabo) ajudam a evitar vieses individuais.
- Aprenda com erros: registre decisões, resultados e aprendizados para melhorar padrões futuros.
Não há formas garantidas para decisões melhores, porém caminhos para verificar sua aplicabilidade. Assim é saudável antes de decidir, listar ganhos e perdas prováveis, quantificando impactos sempre que possível. Também perguntar: "Qual é o pior cenário viável e como me preparar para ele?" De todo modo deve-se projetar decisões com prazos, critérios de sucesso e mecanismos de revisão e criar rotinas de checagem emocional: momentos de pausa, respiração ou avaliação externa antes de decisões importantes. É importante ter em mente que a tomada de decisão humana é moldada por uma interação entre emoção, julgamento rápido e raciocínio deliberado, com limites inevitáveis. Reconhecer esses limites e aplicar estratégias simples de organização, revisão e aprendizado contínuo pode tornar as decisões mais racionais e menos vulneráveis a vieses, aumentando a qualidade e a satisfação das escolhas.