
Lá fui eu até Realengo conhecer o OcupaTok num ônibus fretado saindo do Leme levando criadores, jornalistas e convidados para um encontro que mistura moda, cultura e ancestralidade. O destino era a Casa Tok, espaço idealizado por Rafaela Pinah, criadora do projeto Coolhunter Favela.
Naquele local presenciei o OcupaTok, experiência apresentada pela Heineken, que transformou uma tarde comum em um mergulho profundo nas conexões entre moda periférica, sustentabilidade e identidade negra num dia de frio e chuva no Rio de Janeiro. Ao chegarmos, aquela lona de circo clássica cobria o local onde teríamos uma roda de conversa.
A princípio fomos recebidos por Rafaela para um tour pelo espaço, onde várias peças e acessórios doados por grandas marcas como Farm, Cosmo, e outras, foram ressignificados em um bazar sustentável. Além disso, na entrada funciona uma barbearia às quartas-feiras das 9h às 20h permitindo uma aproximação com a comunidade.
No segundo andar é o espaço da galeria da Casa Tok, uma das áreas mais simbólicas do OcupaTok. É onde a parceria entre a WTNB e a Coolhunter Favela, viabilizada pela Heineken, ganhou forma visual e sensorial. A exposição apresenta um shooting artístico que reflete o diálogo entre ancestralidade e contemporaneidade, traduzindo as raízes e o futuro da moda periférica.
“Dar um espaço para que a comunidade se sinta num lugar diferente enquanto estímulo de visualidades”, disse Rafaela Pinah.

O OcupaTok me fez refletir em como a cultura periférica carioca é muito mais do que funks exaltando baixaria, criminalidade e drogas.
Por volta das 15h30, começou a roda de conversa “Ancestralidade na Construção de Narrativas”, reunindo nomes como Ana Clara Watanabe, Guto Carvalho Neto e André Carvalhal. O diálogo foi o ponto alto do evento e girou em torno da importância de reconhecer nossas ancestralidades como bases da criação contemporânea e o imediatismo das tecnologias atuais.
“A necessidade da gente de preencer a demanda da internet, o sentimento que mais traduz isso é o sentimento da angústia, eu como profissional independente da moda”, disse o estilista baiano Guto Carvalho.
“O quanto as barbearias tomaram conta dos lugares e isso é fascinante. Antes só tinha fármacia e igreja. E agora temos barbearia, isso é um sinal de ‘galera, vamos caprichar’.”, declarou Guto.
É o tipo de conversa inspiradora a qual movimenta minha esperança de não ver crianças cantando músicas cheias de palavrões e pesadas, mas sim tendo novas experiências e vislumbrando possibilidades na arte como um todo.
“Todas as minhas experiências com a moda me ensinaram muito sobre pessoas, o mundo e o momento em que estamos vivendo”, falou o escritor André Carvalhal.
Por fim, fechando o evento, umas 20h, um rapaz chegou soltando fogos e os bate-bolas surgiram com suas máscaras coloridas e movimentos energéticos, encerrando o evento com uma intervenção artística. Pessoalmente nunca curti bate-bolas e o barulho dos fogos, mas é um clássico suburbano, o qual me faz recordar os domingos na casa dos meus avós em Del Castilho.
Afinal, o OcupaTok mostra com eficiência como a moda é também ferramenta de transformação social e o potencial da periferia.
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