Inquérito concluiu que não há provas suficientes para imputar responsabilidade criminal a qualquer funcionário ou gestor da empresa
O inquérito policial que investigava a explosão na fábrica Enaex Brasil, em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, concluiu que o incidente que matou nove funcionários não envolveu crime doloso ou culposo. No entanto, a investigação identificou falhas sistêmicas na gestão de risco da empresa, problemas estruturais e procedimentos improvisados que podem ter contribuído para a tragédia.
Segundo a delegada Gessica Andrade, responsável pelo caso, o trabalho investigativo incluiu a análise de imagens de monitoramento, depoimentos de funcionários e relatórios internos da empresa, além de mensagens corporativas e registros de incidentes anteriores. O laudo pericial indica que o epicentro da explosão foi no Edifício 44, dedicado à produção de boosters de pentolite — mistura de nitropenta e TNT.
“A gente conseguiu verificar que era uma planta bem antiga, tinha bastante sinais acentuados de corrosão e necessitava de bastante manutenção. Algumas dessas manutenções eram feitas ali durante o trabalho e de uma forma paliativa… Algumas gambiarras, que não é o que se espera de uma fábrica de explosivo”, afirmou nesta quinta-feira (9).
A principal teoria levantada é que o atrito das pás do misturador com o pentolite parcialmente solidificado gerou energia suficiente para iniciar a detonação. A baixa temperatura registrada na manhã do acidente contribuiu para endurecer parte do material, enquanto ajustes incorretos no torque e na temperatura do equipamento aumentaram o risco.
“Foi o frio que causou a explosão? De forma alguma. Foi uma falha ali em toda a gestão do equipamento. O equipamento tinha um set point, que era ajustado para operar em uma temperatura abaixo da temperatura de fluidificação do material. Eles trabalhavam a partir de 50 graus, enquanto o material só fundia a partir de 70 graus. Então, eles trabalhavam com um pouco de material ainda endurecido e a gente acha que esse atrito do material solidificado com as pás do agitador pode ter causado essa explosão”, acrescentou Gessica Andrade.
Além disso, a investigação apontou que a matéria-prima recebida em algumas ocasiões apresentava contaminação, incluindo detritos de borracha e plástico, que poderiam ter favorecido o incidente. Procedimentos de segurança improvisados para desentupimento e manutenção do equipamento também foram registrados.
“A principal teoria é a falha do equipamento, do torque e a temperatura. O equipamento não estava bem aquecido e o torque era um pouquinho elevado. Ele não era tão sensível, porque a haste do misturador deveria parar, se tivesse um pouco de resistência. Só que esse torque estava, de repente, um pouquinho acima do limite.”
Sem culpados
Apesar de todos os problemas apurados, o inquérito concluiu que não há provas suficientes para imputar responsabilidade criminal a qualquer funcionário ou gestor da empresa. A delegada ressaltou que a decisão de operação era compartilhada entre vários setores e ninguém tinha controle total sobre o equipamento ou sobre o processo produtivo.
“A gente trabalhou com pouquíssimo material de fato. A gente não tinha provas materiais. A gente não consegue cravar a causa. Por isso, eu não consigo imputar essa causa a ninguém, porque a gente não consegue dizer: foi exatamente isso. O inquérito concluiu como um acidente industrial de causa não especificada. A gente tem essas teorias, mas a gente não consegue ter certeza. E por isso eu não consigo imputar esse resultado a alguém, essas nove mortes, a uma pessoa específica”, afirmou a delegada.
Embora não haja culpados na esfera criminal, a Enaex Brasil poderá ser responsabilizada nas áreas administrativa, trabalhista e cível, de acordo com a delegada. O relatório será encaminhado ao Ministério do Trabalho e à Polícia Federal para acompanhamento e eventuais providências.
A Banda B procurou a Enaex Brasil para comentar sobre a conclusão das investigações e aguarda retorno.
Quem são as vítimas
As nove vítimas da explosão em uma fábrica de explosivos de Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, foram oficialmente identificadas no final de agosto pelas forças de segurança do Paraná. O incidente deixou outras sete pessoas feridas. Veja abaixo os nomes dos funcionários que morreram:
Camila de Almeida Pinheiro
Cleberson Arruda Correa
Eduardo Silveira de Paula
Francieli Goncalves de Oliveira
Jessica Aparecida Alves Pires
Marcio Nascimento de Andrade
Pablo Correa dos Santos
Roberto dos Santos Kuhnen
Simeão Pires Machado
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), cerca de 1 mil vestígios das vítimas foram localizados pelas equipes durante as buscas, os quais foram analisados pelos laboratórios da Polícia Científica e pela Polícia Civil. A identificação das vítimas seguiu o protocolo internacional de Disaster Victim Identification (DVI), reconhecido pela metodologia científica em situações de múltiplas vítimas.
Publicado primeiro em Banda B » Explosão em fábrica de explosivos: investigação aponta para ‘gambiarras’, falhas na gestão e termina sem culpados - https://www.bandab.com.br/regiao-metropolitana-de-curitiba/explosao-fabrica-explosivos-inquerito-concluido/