
Porto Velho, Rondônia – Com a chegada da estação seca e o termômetro em alta, Rondônia se prepara para enfrentar um período crítico na gestão de sua demanda energética. O estado, vital para o equilíbrio energético do Brasil, pode sentir os efeitos de um consumo elevado em contraponto à diminuição da capacidade de suas principais fontes de geração, as usinas hidrelétricas. Este cenário desafia autoridades e a população a um olhar atento sobre a segurança do fornecimento.
A dependência do estado das grandiosas Usinas Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, localizadas na bacia do Rio Madeira, coloca Rondônia no centro das atenções. Essas usinas, que alimentam tanto o consumo local quanto parte do Sistema Interligado Nacional (SIN), operam no modelo a fio d'água, o que as torna diretamente suscetíveis às variações do volume do rio. Relatos e previsões recentes já apontam para um cenário de baixa nos níveis da água, um fator que pode restringir a produção de energia e, em situações mais severas, até mesmo levar à paralisação, como já ocorreu com a usina de Santo Antônio no passado. É importante ressaltar que agosto é historicamente o mês mais crítico para o Rio Madeira, quando os níveis de água atingem seu ponto mais baixo, impactando diretamente os poços artesianos e o abastecimento local.
O custo da estiagem e o impacto no consumidor
A equação é direta: menos água significa menos energia hidrelétrica. Para compensar essa lacuna, o sistema elétrico nacional precisa acionar as usinas termelétricas, cuja operação é significativamente mais cara por depender de combustíveis. Essa diferença de custo, alertam especialistas, pode se traduzir diretamente no bolso do consumidor rondoniense, por meio da ativação das bandeiras tarifárias amarela ou vermelha, que adicionam um valor extra à conta de luz.
Além do impacto direto nos custos, a instabilidade no fornecimento de energia traz preocupações para os diversos setores da economia rondoniense. Indústrias, agronegócio e comércio, que dependem de um suprimento constante, podem enfrentar prejuízos com eventuais interrupções.
Medidas de prevenção e resiliência do sistema
Diante desse panorama, o planejamento e a ação preventiva tornam-se essenciais. Órgãos como o Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO) e o próprio Governo do Estado já se articulam para enfrentar a estiagem e as mudanças climáticas em 2025, buscando antecipar desafios e mitigar impactos.
No campo da infraestrutura, a Eletrobras tem atuado para fortalecer o sistema elétrico na região, como a energização antecipada de reatores para evitar interrupções nas usinas de Jirau e Santo Antônio. Há também estudos para otimizar a operação de Jirau de forma mais independente, garantindo maior estabilidade no fornecimento. Embora a usina de Jirau seja considerada mais resiliente às variações de nível do rio em comparação com Santo Antônio, ambas permanecem em monitoramento constante.

Como economizar energia em tempos de estiagem: dicas práticas
Para aliviar a pressão sobre o sistema e a conta de luz, a população tem um papel fundamental na economia de energia. Pequenas mudanças de hábito fazem uma grande diferença:
Ar-condicionado: Use com moderação, mantendo a temperatura em torno de 23°C. Limpe os filtros regularmente para garantir a eficiência.
Chuveiro elétrico: Reduza o tempo no banho e, se possível, prefira temperaturas mais amenas.
Geladeira: Verifique a vedação da porta, evite abrir desnecessariamente e não guarde alimentos quentes. Mantenha-a longe de fontes de calor.
Iluminação: Aproveite ao máximo a luz natural. Ao sair de um cômodo, apague as luzes. Troque lâmpadas antigas por LEDs, que são mais eficientes.
Eletrônicos: Desligue aparelhos da tomada quando não estiverem em uso. O modo stand-by consome energia.
Ferro de passar: Acumule uma boa quantidade de roupas para passar de uma vez só, evitando ligar e desligar o aparelho várias vezes.
Termelétricas ainda funcionam em Rondônia?
Apesar dos esforços para reduzir a dependência de fontes mais poluentes e caras, como o diesel, as usinas termelétricas ainda são cruciais para Rondônia, especialmente em períodos de seca. A dependência de hidrelétricas torna o sistema vulnerável a variações climáticas. Nesses cenários, as termelétricas são acionadas como backup para garantir o fornecimento de energia e evitar apagões. Além disso, algumas regiões ainda não estão totalmente conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e dependem de sistemas isolados que, muitas vezes, são supridos por termelétricas menores.Com base nas informações mais recentes, as seguintes termelétricas estão ativas ou foram acionadas para operação em Rondônia:
Termonorte I e Termonorte II: Localizadas em Porto Velho, essas usinas foram acionadas em outubro de 2023 pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para assegurar o suprimento de energia tanto em Rondônia quanto no Acre, devido à severa seca na região Norte. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) autorizou a operação da UTE Termo Norte I até que a situação hidrológica do rio Madeira se normalize. Mesmo com a expectativa de não serem despachadas em 2024 devido a obras na subestação, sua capacidade de acionamento as mantém como uma parte vital do sistema energético do estado.
Usinas da Amazonbio e Brasil BioFuels: Em 2019, a ANEEL liberou para operação comercial 49 unidades geradoras de dez usinas termelétricas pertencentes à Amazonbio e à Brasil BioFuels. Juntas, essas usinas somam uma capacidade de aproximadamente 6,4 MW. Elas operam no Sistema Isolado e incluem as seguintes unidades:
Calama (1.7 MW)
São Carlos (1.6 MW)
Nazaré (742 kW)
Rolim de Moura do Guaporé (662 kW)
Surpresa (660 kW)
Demarcação (286 kW)
Santa Catarina (234 kW)
Pedras Negras (232 kW)
Conceição da Galera (198 kW)
Maici (77 kW)
É importante ressaltar que, embora programas de descarbonização estejam em andamento (como o da Energisa, que desativou a 13ª termelétrica em Rondônia em 2022), outras unidades continuam operacionais, sendo essenciais para a segurança energética, especialmente em áreas remotas ou durante crises hídricas prolongadas.
A estação seca em Rondônia, que atinge seu ponto mais crítico em agosto, impõe ao estado um desafio energético de grandes proporções. A queda no nível do Rio Madeira, vital para a geração hidrelétrica, tem um efeito dominó: reduz a capacidade das usinas, exige o acionamento de termelétricas mais caras e, inevitavelmente, reflete-se em contas de luz mais altas para o consumidor.
Mas a segurança energética não é uma preocupação isolada das autoridades. É um esforço que exige a colaboração de todos. Adotar práticas de consumo consciente torna-se uma ferramenta poderosa para minimizar os impactos da estiagem, garantindo que a energia, pilar da vida cotidiana e da economia rondoniense, continue a fluir de forma mais estável.
Redação Diário O Norte